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'A rica descriçao dos eventos que culminaram na Crise de Berlim, bem como da de seus desdobramentos, é o resultado de um meticuloso trabalho de pesquisa realizado pelo autor_ Frederick Kempe. Ele se mostrou extremamente cuidadoso ao avaliar com precisao as contingências políticas e históricas por que passaram os principais atores envolvidos na delicada e instável condiçao de Berlim por volta de 1961, a saber: Nikita Kruschóv (URSS), John Kennedy (EUA), Walter Ulbrich (RDA) e Konrad Adenauer (RFA). Com isso, é possível compreender sem maiores esforços a complexa e sutil formulaçao das relaçoes internacionais, das disputas de poder na Guerra Fria e dos atritos de implicaçao militar entre estes representantes de ideologias tao antagônicas. A seqüência cronológica da apresentaçao dos principais fatos é um dos elementos tratados com grande habilidade pelo autor, o que faz com que a narrativa se dê em ritmo de suspense, prendendo sobremaneira a atençao do leitor. Percebe-se a atençao de Kempe em sempre fornecer os elementos necessários ao entendimento da gravíssima situaçao que quase deflagrou o início de uma guerra termonuclear de proporçoes mundiais. Também sao explicitadas as divergências entre europeus tanto entre si quanto em relaçao aos americanos no que se referia à Alemanha, além das características pessoais dos principais líderes envolvidos. Kennedy demonstrou por várias vezes_ e principalmente nas tratativas diretas com Kruschóv_ ser um líder inexperiente e vacilante que exacerbou nas concessoes ao adversário, que, por sua vez, soube explorar de forma bastante astuta as indecisoes do presidente americano. Com isso, a virulência do premiê soviético impôs derrotas sucessivas aos EUA no campo diplomático, acuando um Kennedy temeroso por iniciar uma guerra atômica e abrindo campo para a construçao do Muro de Berlim. Surpreendentemente, o Muro nao é o foco principal do livro. Fugindo desta quase irresistível tentaçao, Kempe o descreve como resultado de um longo e intrincado processo histórico, com origens que remontam ao final da 2ª Guerra, em 1945. Reside aí a principal virtude do autor: apresentar fatos sucessivos_ e vários simultâneos_ de maneira precisa e correlata, o que favorece a leitura e o entendimento. Dois fatos, contudo, poderiam ter sido abordados em maior profundidade, em virtude de sua relevância para o entendimento das açoes ocorridas em Berlim. O primeiro, importantíssimo, é o Tratado de Potsdam, que definiu as bases legais para o estabelecimento da ordem no pós-guerra, que incluíam a divisao e a forma de controle da Alemanha_ e de Berlim_ pelos Aliados. O segundo é o Bloqueio a Berlim feito por Stálin entre junho de 1948 e maio de 1949, cuja interrupçao dos acessos rodoviários e hidroviários, se constituiu na primeira tentativa concreta de Moscou de forçar a saída das potências ocidentais da cidade. Outro elemento que poderia ter sido incluído no livro é um mapa complementar e mais detalhado de Berlim, que mostrasse de forma mais clara: a separaçao das 4 zonas de ocupaçao da cidade (soviética, americana, inglesa e francesa) e o local em que o muro fora construído (para o quê a identificaçao dos bairros muito favoreceria). Nada disso, contudo, compromete a qualidade da obra ou sua relevância para o entendimento do fato a que se propoe. Em suma, trata-se de um livro altamente recomendável por suas qualidades narrativas, pela riqueza bibliográfica e por desvendar, com muita nitidez, um dos momentos históricos mais críticos e determinantes_ embora talvez menos conhecidos_ da segunda metade do século XX.'

Nota

10

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