Os poemas reunidos neste volume ocupam uma posiçao singular na obra de drummond
Aqui o autor parece querer buscar, por meio da retomada de formas clássicas, um equilíbrio entre o passado e o presente
O amor, a morte e a memória sao alguns dos temas elaborados por um homem que sempre quis fazer parte do seu próprio tempo
Leitura obrigatória do vestibular da fuvest
Publicado em 1951, claro enigma representa um momento especial na obra de drummond
Com uma dicçao mais clássica, o poeta revisita formas que haviam sido abandonadas pelo modernismo (como o soneto, modalidade que fora motivo de chacota entre as novas geraçoes literárias), afirma seu amor pela poesia de dante e camoes e busca uma forma mais difícil, mas sem jamais abandonar o lirismo e a agudeza de sua melhor poesia.o livro abre com a epígrafe do francês paul valéry, "les evenements m'ennuient" (os acontecimentos me entediam)
Embora eloquente, a citaçao nao corresponde perfeitamente à realidade, pois drummond nao vira completamente as costas para a vida mais pulsante
Pelo contrário: a experiência aparece em cada verso do livro, ainda que escamoteada por uma lírica que nao se entrega ao fácil graças a uma visao algo desiludida do tempo e dos homens.mas há, claro, espaço para o lirismo do amor, como no célebre poema "amar", que começa com os versos: "que pode uma criatura senao, / entre criaturas, amar?"
A lira romântica de drummond está bem afinada neste livro, como pode ser comprovado pela leitura de poemas como "rapto" e "tarde de maio"
A mineiridade também é lembrada no livro, em poemas vazados pela nostalgia ou que recontam episódios antigos da terra natal do autor.claro enigma também conta com "a máquina do mundo" - eleito o melhor poema brasileiro do século xx por um grupo de críticos e especialistas consultados pelo jornal folha de s.paulo
Escrito em tercetos, é simultaneamente uma meditaçao profunda e uma espécie de épica intima sobre a passagem do tempo e o conhecimento da vida como acontecimento breve e muitas vezes fortuito
Um clássico.