A civilizaçao brasileira volta a editar a traduçao de o capital (feita diretamente do original alemao pelo economista reginaldo sant'anna)
Trata-se, certamente, da obra mais importante do grande pensador, a cuja redaçao ele dedicou a maior parte de sua vida
É neste livro que, com plena maturidade intelectual, marx aprofunda e sistematiza a brilhante análise crítica, já presente no manifesto, das formas de sociabilidade que caracterizam o mundo moderno
Malgrado o impacto que teve e continua a ter, com todos os méritos, nos debates da chamada "ciência econômica", o capital - que nao por acaso tem como subtítulo crítica da economia política - nao é simplesmente um livro de economia
Graças ao emprego do método dialético, que privilegia o ponto de vista da totalidade, a obra tem como objeto a reconstruçao das principais determinaçoes da vida social global dos homens
Quando, numa carta a engels, marx chamou o seu livro de "um todo artístico", nao fazia com isso uma simples metáfora: buscava indicar o princípio metodológico que orienta seu trabalho e que lhe possibilita atingir aquela profunda unidade sistemática de conceitos que reproduz, no plano do pensamento, a unidade do próprio ser social na riqueza explicitada e concreta de todas as suas determinaçoes
Por isso, os conceitos que marx elabora em o capital - mercadoria, capital, mais-valia, lucro e juro, renda fundiária, reproduçao simples e ampliada etc
- nao sao simples enunciados de "fatos" econômicos: sao categorias que expressam relaçoes sociais histórico-concretas, o modo pelo qual - numa determinada etapa de sua evoluçao - os homens dominam a natureza e criam novas e cada vez mais complexas formas de sociabilidade
A "crítica" anunciada por marx, no subtítulo de sua obra-prima, tem por objetivo dissolver dialeticamente a pretensa autonomia dos "fatos" econômicos na totalidade social onde ganham seu verdadeiro sentido
Para ele, o capital nao é (ao contrário do modo como se apresenta imediatamente e é apresentado pelos seus ideólogos) uma "coisa", um "fetiche", um "fato natural", mas é uma relaçao histórico-social entre os homens
Para demonstrar isso, marx examina a dinâmica do capital, sua gênese histórica e suas contradiçoes imanentes, o que lhe permite enunciar a possibilidade concreta de que o modo de produçao capitalista venha a ser superado por novas e mais ricas formas de sociabilidade, às quais deu o nome de "socialismo" ou "comunismo"
A observaçao de georg lukács - "a ortodoxia em matéria de marxismo diz respeito somente ao método" - indica como o capital deve ser relido hoje: buscando-se nele nao a veracidade positivista desta ou daquela afirmaçao, mas o sentido profundo do método crítico-dialético com o qual opera
Se fizermos isso, veremos que o capital continua a fornecer o mais eficiente instrumento para dissipar o véu fetichista com que os atuais teóricos do neoliberalismo e da "pós-modernidade" pretendem encobrir as novas e dramáticas contradiçoes do capitalismo "globalizado".