Divisor de águas na antropologia, este livro radicaliza a reflexão sobre o polêmico conceito de cultura, a partir da ideia de invenção: "voltaire observou que se deus não existisse teria sido necessário inventá-lo
E eu acrescentaria [...] que se deus existe isso torna ainda mais necessário inventá-lo". o autor defende não só uma revisão dos modos de fazer antropologia, mas também uma reflexão sobre a ciência em geral que, assim como a cultura, estaria tanto ou mais ligada a um processo de invenções do que de descobertas
Para wagner, o exercício de tradução é inerente ao esforço de se apreender uma nova cultura
Isto é, há sempre duas culturas em jogo: a da sociedade a ser estudada e a do próprio antropólogo. desse modo, toda etnografia decorre de um choque cultural e elabora a visão de uma cultura em relação a outra, sendo, portanto, um processo subjetivo. o exercício de tradução de uma cultura para outra se dá como invenção, uma vez que coloca o objeto de estudo nos termos particulares da cultura do sujeito que a estuda
Além disso, o ato de se aprofundar em uma nova cultura traz consigo uma revisão de sua própria, na medida em que as diferenças tornam aparente o que sempre se percebeu como algo "natural"
O texto sugere, inclusive, a noção de antropologia reversa, na qual as sociedades estudadas fariam uma leitura das sociedades ocidentais nos seus próprios termos
O autor adverte seus leitores sobre a necessidade de reinvenção da antropologia a partir dessa nova consciência
Trataria-se, assim, de mais um capítulo da história da disciplina, posterior à passagem da concepção diacrônica dos evolucionistas e difusionsitas para a sincrônica e relacional do estruturalismo
Além disso, suas ideias permitem aprofundar os diálogos entre culturas
O autor elabora uma compreensão antropológica da sociedade americana da época, fazendo, por exemplo, um paralelo entre a importância da magia para a constituição simbólica das sociedades primitivas e a do consumo para os americanos, assim como uma comparação entre as dinâmicas psicanalíticas do sujeito elaboradas por freud e a invenção da personalidade na contemporaneidade.