Carcereiros em estaçao carandiru, que desde 1999 teve mais de 500 mil exemplares vendidos, drauzio varella focou seu corajoso relato na populaçao carcerária de um dos presídios mais violentos do brasil
Como médico voluntário, pôde revelar o intricado código de ética da cadeia, bem como descrever, sem julgamentos morais ou sentimentalismo, os habitantes daquela estrutura tao particular
Mas os vinte e três anos que o autor tem passado atuando em presídios brasileiros também o aproximaram do outro lado da moeda: as centenas de agentes penitenciários que, trabalhando sob condiçoes rigorosas e muitas vezes colocando a vida em risco, administram toda a populaçao carcerária do brasil
Foi com um grupo desses agentes que drauzio passou a se reunir depois das longas jornadas de trabalho, em um botequim de frente para o carandiru
Em 2002, o governo do estado demoliu a casa de detençao, mas o grupo seguiu se encontrando regularmente
E é a partir dessas reunioes, somadas à longa experiência no sistema carcerário de sao paulo, que o autor conduz os relatos de carcereiros, segundo volume da trilogia iniciada por estaçao carandiru (o terceiro livro, prisioneiras, terá como ponto de partida o trabalho do médico na penitenciária feminina da capital)
Surgem, assim, as histórias das rebelioes vistas de dentro, por quem estava na derradeira linha de negociaçao com os presos
Do silêncio que antecede uma explosao de violência à crise em suas ultimas consequências, acompanhamos de perto a atuaçao daqueles que, muitas vezes agindo em condiçoes precárias, sao os unicos capazes de lidar com as leis internas que regem uma prisao
Pessoas que, na imensa maioria, nao estao lá por vocaçao ou chamado
Atraídas pela segurança de um emprego público, tornam-se improváveis especialistas em psicologia, sociologia e tantos outros ramos das ciências humanas
Passam a detectar pequenos sinais, indícios e movimentaçoes que, se nao fossem previstos, acarretariam em tragédia
E levam, para o seio de suas vidas, as cicatrizes da violência.