Sergio buarque de holanda morou em berlim entre 1929 e 1930, como correspondente de o jornal, orgao dos diários associados
A cidade vivia o fervor da república de weimar, o auge criativo de alfred döblin, fritz lang e kurt weill, o frenesi dos cabarés
Era um ambiente cultural estimulante e mundano - embora a barbárie e as trevas estivessem logo ali, à espreita
O período berlinense foi de grande importância para a formaçao do jovem crítico
Na cidade travou contato com nomes relevantes da intelligentsia local, como thomas mann - a quem entrevistou nos elegantes saloes do hotel adlon, no bulevar unter den linden - e o historiador friedrich meinecke - a cujas aulas assistiu
A experiência no estrangeiro e o distanciamento serviram ainda de incentivo para a reflexao sobre o país natal
Datam da estadia na capital alema os apontamentos para "corpo e alma do brasil", artigo publicado em 1935 na revista espelho, e que seria a base de raízes do brasil, lançado no ano seguinte
Essa berlim brechtiana foi também cenário de uma aventura amorosa entre o brasileiro e certa anne ernst, da qual resultou um filho, sergio ernst, que o pai jamais conheceu
De volta ao brasil, sergio buarque daria largos passos rumo ao ensaísmo acadêmico, se tornaria professor universitário e diretor de museu, logo um dos maiores intelectuais do país
Casou-se, teve sete filhos, entre os quais chico buarque
Seu "mau passo juvenil" nao era exatamente um tabu, porém estava longe de ser assunto na família
Chico só soube da história em 1967, aos 22 anos
Estava na casa de manuel bandeira em companhia de vinicius de moraes e tom jobim, e o poeta pernambucano deixou escapar algo sobre aquele "filho alemao do seu pai"
Quando se preparava para escrever um novo romance, o autor pediu a luiz schwarcz - como costuma fazer ao fim dos períodos de entressafra literária - que lhe enviasse livros de que gostara nos ultimos tempos
No pacote foram austerlitz, de w
G
Sebald, cruciante investigaçao ficcional da memória e da história pessoal, e paris, a festa continuou, de alan riding, uma história narrativa das manifestaçoes culturais na paris ocupada pelos nazistas (a bem da verdade um relato da acomodaçao de grande parte dos artistas e empresários da cultura franceses às forças de ocupaçao)
A leitura de austerlitz despertou em chico buarque a angústia pelo destino incerto desse irmao que jamais conhecera - e que bem poderia ter sucumbido aos anos de terror numa "cidade bombardeada e partida ao meio", ou mesmo cerrado fileiras com a juventude hitlerista
Transcorridas quase cinco décadas, decidiu entao tomar o assunto como matéria para um novo livro
Logo assomou a necessidade de saber o que se passara com sergio ernst, por motivos afetivos mas agora também literários
Afinal, como desatar os nós da narrativa sem conhecer o fim da história real? por sua vez, um pianista salvo do nazismo pelo mítico benemérito americano varian fry, citado em paris, a festa continuou, evocou lembranças da infância paulistana do autor -, e deu-lhe o mote para uma figura central do romance
Começava-se assim a desenrolar o novelo
Chico buarque já enfrentava as primeiras páginas quando tomou conhecimento de uma correspondência - preservada por sua mae, maria amelia buarque de holanda - entre autoridades do governo alemao e seu pai, ali chamado de sergio de hollander
Já no poder, os nazistas queriam se certificar de que a criança, entao sob a guarda do estado, nao tinha antepassados judeus, a fim de liberá-la para adoçao
Ao tomar ciência do teor dos documentos, chico deu início a uma pesquisa exaustiva sobre a vida e o paradeiro do garoto
Por intermédio do historiador brasileiro sidney chalhoub, acionado pela editora enquanto passava um período acadêmico em berlim, os pesquisadores joao klug (historiador) e dieter lange (museólogo) embarcaram num trabalho verdadeiramente detetivesco, conseguindo afinal traçar o destino do "irmao alemao", com descobertas surpreendentes
O irmao alemao