Série publicada originalmente na folha de s.paulo, muchacha é, nas palavras do autor, o primeiro "graphic-folhetim" de sua carreira
Tendo como mote os bastidores de um programa de tevê, laerte, ao mesmo tempo que cria uma elaborada - e divertida - revisao dos seriados de aventura da década de 1950, também faz uma espécie de resgate afetivo de suas memórias de infância
Assim como o trabalho que vem apresentando em sua tira diária no jornal, muchacha tem inúmeras chaves de leitura
Pode-se explorar suas páginas em busca da resoluçao do suspense da própria trama
Pode-se buscar o humor que, se nao tao obvio quanto nos antigos personagens do autor - os gatos, o capitao, o zelador etc
-, firma-se mais no campo das insinuaçoes e alusoes, alçando o livro a algo muito além de uma simples paródia
Mas as aventuras do capitao tigre, de sulfana e de milhafre - e de lairo, djalma, cabayba - sao também um riquíssimo jogo sobre a própria natureza das histórias em quadrinhos e, por que nao, sobre como contar uma história
Quebrando constantemente a expectativa do leitor, laerte transita entre ficçao e realidade, entre drama e humor
Mas faz isso nao para postular sobre os limites da narrativa ou alguma teoria do tipo, mas para abrir novas trilhas e percorrer novos caminhos na linguagem das hqs.combinando suspense, romance, memória e política, muchacha vem para confirmar o papel de laerte como um dos grandes artistas brasileiros em atividade.ao fim do livro, rafael coutinho - coautor do romance-gráfico cachalote e filho de laerte - ilustra uma aventura de oito páginas do capitao tigre.