Neste abrangente estudo philippe ariès investiga o comportamento humano diante da morte ao longo do último milênio nas sociedades ocidentais
A partir de uma perspectiva histórica, sociológica e até mesmo psicológica, ele analisa textos literários, inscrições lapidares, obras de arte, diários pessoais para mostrar que as atitudes em relação à morte, própria e dos outros, foram se transformando, de modo quase imperceptível, no decorrer do tempo, até se tornarem irreconhecíveis em relação aos séculos anteriores
A comparação entre a morte familiar e domesticada da sociedade cristã medieval e a morte repelida, percebida como negação absoluta e tornada oculta da era contemporânea, dão a medida justa dessa mutação
Ariès levanta uma hipótese para a pesquisa, monumental, e a enriquece gradualmente propondo por fim a existência de uma correlação entre a atitude do homem diante da morte e a consciência da individualidade, agregando ainda outras três variáveis ??psicológicas ao estudo: a defesa da sociedade contra a natureza selvagem e a crença na sobrevivência e na existência do mal
A obra mostra que a trajetória humana em torno da morte não tem continuidade temporal, pois velhas atitudes sobrevivem a novos modelos
Contudo, na era medieval o modelo predominante é o da morte como membro das comunidades, que conduz os homens a uma espécie de sono
Em seguida, vem à tona o indivíduo e impõe-se a noção de sobrevivência da alma, a sede da individualidade
Num segundo momento, que vai do século 16 ao século 18, a morte até então domesticada e contida, é liberada, retorna ao estado de selvageria e passa a provocar fascínio e medo
É somente no século 18, segundo airiès, que a morte adquire um sentido dramático e passa a ser encarada como transgressão, por roubar o homem de seu cotidiano e sua família trata-se agora de olhar para a morte do outro
Nos anos seguintes a morte se transformou, aos poucos, em tabu, sua proximidade passou a ser ocultada do moribundo
Mas foi a partir dos anos 1930 que a medicina mudou a representação social da morte: morre-se agora em hospitais, não mais em casa, e a vida pode ser estendida, ainda que de forma vegetativa, por meses e anos.