Filha de uma tradicional família colombiana, educada na europa, ingrid betancourt resolveu abandonar a segurança de uma vida confortável para dedicar-se aos problemas de seu conturbado país
Elegendo-se sucessivamente deputada e senadora, ingrid fundou em 1998 o partido oxigênio verde, com o objetivo de trazer novas esperanças à política colombiana, marcada pela violência sectária e pela corrupção
Interessada em promover o diálogo entre as diversas facções da guerra civil que há décadas dilacera a colômbia, a jovem senadora resolveu em 2001 lançar sua candidatura às eleições presidenciais
No ano seguinte, durante uma viagem de campanha ao único município governado por um prefeito de seu partido, a candidata - então mal colocada nas pesquisas - foi sequestrada por um comando das farc, junto com diversos assessores e seguranças, num episódio até hoje mal explicado
Levada para o interior da selva em inúmeras viagens de barco, caminhão e marchas a pé, ingrid se viu repentinamente desligada do convívio dos amigos e da família, isolada do mundo exterior em meio a guerrilheiros fortemente armados
A autora de não há silêncio que não termine passaria mais de seis anos em poder das farc
Sua visível agonia, documentada por cartas e "provas de vida" em vídeo, bem como sua libertação numa célebre e cinematográfica operação do exército colombiano, em 2008, chamaria novamente as atenções do mundo para o conflito que atualmente ameaça a paz no continente sul-americano
Este livro é o relato contundente de sua experiência como prisioneira da guerrilha narcotraficante, em meio à fome, à doença e às humilhantes condições impostas pelos sequestradores
Os momentos mais dramáticos de sua longa crônica de desventuras certamente são as desesperadas tentativas de fuga
Decidida a recuperar sua liberdade a qualquer custo, ingrid tentou escapar diversas vezes, sendo invariavelmente recapturada pela guerrilha, faminta e perdida na selva
Obrigada ao convívio quase permanente com os companheiros de sequestro, a autora relembra a rotina tensa do cativeiro, em que a posição de um colchão ou uma suspeita de favorecimento na distribuição de comida geravam desentendimentos por vezes violentos
Ingrid revisita os diversos acampamentos, mais ou menos provisórios, em que foi mantida prisioneira, associando-os às figuras sinistras dos diversos captores e carcereiros que fizeram parte de seu cotidiano ao longo dos anos
A vítima retrata seus algozes sem rancor, descrevendo-os em sua miséria política e humana
O bem-sucedido fim do sequestro, em julho de 2008, encerra o livro num tom de cautelosa esperança, dedicado à preocupante situação dos reféns ainda em poder das farc.