Reediçao de obra clássica dos estudos de cinema traz nove textos de andré bazin nunca antes publicados no brasil e ensaio de ismail xavier
Clássico dos clássicos entre os escritos sobre cinema, este livro é uma aula sobre a sétima arte e suas relaçoes com fotografia, teatro e literatura, e, sobretudo, uma escola definitiva sobre o fazer crítico
A variedade de temas caros à história do cinema neste volume indica a versatilidade e a generosidade de andré bazin
Com um estilo claro e acessível, ele transita das escolas italiana e soviética ao universo do western e das pin-ups, o que fez com que, merecidamente, tenha se transformado num dos maiores críticos modernos
Considerado um dos maiores críticos do pós-guerra, bazin produziu a maior parte dos textos reunidos nesse livro no contexto dos cineclubes parisienses, entre 1945 e 1958
Ele foi um dos fundadores da revista francesa cahiers du cinéma e, como editor-chefe deste periódico, esteve na linha de frente da produçao cinematográfica do período e conviveu com diversos cineastas, entre eles os jovens jean-luc godard, eric rohmer e françois truffaut, este ultimo seu filho adotivo
Mais tarde, estes o tomariam como mentor do movimento cinematográfico que iriam criar a partir de suas ideias de que um filme deve representar a visao pessoal de um cineasta: a nouvelle vague
A pesquisa recente reafirma o que já era sabido sobre parte das ideias de bazin nao terem sido registradas porque foram geradas em um contexto informal ou oral, em palestras e projeçoes de filmes
Atualmente, no entanto, há um esforço em recuperar aquilo que foi publicado em revistas menos conhecidas
Do que está acessível, os quatro volumes da série qu¿est-ce que le cinéma? - os três primeiros organizados pelo próprio bazin e o ultimo por jacques rivette e publicados pela éditions du cerf entre 1959 e 1961 - reúnem os principais artigos de bazin publicados em revistas de cinema e cultura
Ao lado dos livros o cinema da crueldade (sao paulo: martins fontes, 1989), jean renoir (em português, lisboa: forja editora, 1975) e orson welles (rio de janeiro: jorge zahar editor, 2005), tais artigos concentram a contribuiçao mais decisiva do crítico ao pensamento sobre a sétima arte
Em 1975, a éditions du cerf publicou o que é o cinema?, seleçao de textos em um unico volume, lançado no brasil em 1991, pela editora brasiliense
A presente ediçao da cosac naify recupera nove textos da série original que nao figuravam nesse volume-síntese, com especial atençao ao volume iv - cujo subtítulo é uma estética da realidade: o neorrealismo e apresenta ainda o texto bazin no brasil, do crítico e professor de cinema ismail xavier
Inédito no brasil, esse artigo dá conta da influência bazaniana na teoria e crítica de cinema em nosso país, em especial, personificada na figura de paulo emílio sales gomes
Bazin se dedicou essencialmente à crítica e nao construiu um sistema estético, mas ao longo de sua trajetória, desenvolveu alguns temas que deram coerência ao seu pensamento
E, entre esses temas, a questao do realismo é central
Ele defendia filmes que versavam sobre o que ele chamava de realidade objetiva, os documentários e as produçoes do neorrealismo italiano, por exemplo
Dessa preferência declarada, vem sua defesa à nao montagem, expressa no texto montagem proibida em que ele considera que a montagem e as manipulaçoes técnicas alteravam a percepçao do espectador, restringindo sua interpretaçao
O uso da profundidade de campo, de planos gerais e de planos-sequência, segundo ele, cabiam mais a uma ideia de cinema moderno que inaugurava uma nova relaçao com o espectador
O cinema entao encontrava sua especificidade e, nesse sentido, apesar de contaminado pela literatura - ultrapassava-a na fruiçao que o espectador poderia ter da passagem do tempo, da duraçao dos eventos, algo próximo do que ele poderia ter na vida real
Além disso, a imagem recuperava a ambiguidade presente nos gestos, como na expressao de um rosto
Adepto da cr