Tradicionalmente associada ao registro documental e objetivo, a fotografia muitas vezes foi tida como arte menor
Certamente nao é isso o que pensam os oitos autores deste livro
Convidados pelo crítico de arte lorenzo mammì e pela antropóloga lilia moritz schwarcz, professores, críticos e um fotógrafo profissional elegeram livremente uma fotografia e a tomaram como ponto de partida para construir ensaios luminosos e originais
Questionando concepçoes consagradas, e muitas vezes equivocadas, os textos refletem sobre as mais variadas imagens, aproximando a fotografia da filosofia, do corpo, do tempo, da política e da memória familiar.abrindo o livro, os críticos alberto tassinari e rodrigo naves passeiam pela obra de dois dos maiores fotógrafos do século xx: henri cartier-bresson e andré kertész
Tassinari mostra como bresson, em sua busca pelo acaso e pelo instante decisivo, incorporou a lógica da colagem à fotografia, associando elementos descontínuos
Já rodrigo naves nos ensina que kertész enfrentou a objetividade com uma poética que alterna exposiçao e recolhimento, o visível e o invisível
Num registro completamente diverso, eugênio bucci parte de um antigo slide de família, tirado pelo irmao durante uma pescaria no interior, para refletir de que maneira as fotos dos albuns pessoais constroem uma percepçao afetiva do tempo, nao linear
O tempo é também assunto do poeta e filósofo antonio cicero, que analisa uma colagem fotográfica de david hockney: em meio a divagaçoes sobre o tédio e os múltiplos pontos de vista, cicero mostra como hockney desconstruiu o instante fotográfico, aproximando-se dos cubistas
O jornalista marcelo coelho, aficionado por fotos de cartazes de ruas, se detém nos cartazes de uma foto do americano walker evans, que registrou o interior dos estados unidos logo após a crise de 1929
Para marcelo, a aparente simplicidade da imagem contrasta com a abundância de significados que a leitura dos cartazes possibilita
No papel de fotógrafa, a antropóloga sylvia caiuby novaes analisa duas fotos feitas por ela própria em 1985, durante um ritual funerário dos indios bororo, no mato grosso
A cerimônia, que inclui a automutilaçao das mulheres, dá ensejo a uma digressao sobre corpo, memória e escrita
Na tradiçao da fotografia épica brasileira, o sociólogo josé de souza martins analisa uma fotografia de sebastiao salgado e questiona a recusa do fotógrafo em considerar a dimensao estética de suas imagens
Por fim, num depoimento sobre uma de suas maiores influências, o fotógrafo cristiano mascaro comenta uma imagem do suíço robert frank: aqui a fotografia documental é transformada numa espécie de auto-retrato, dando origem a imagens capazes de "desconstruir e reconstruir o mundo".editado em parceria com o centro universitário maria antonia/usp, 8 x fotografia foi concebido durante o seminário de mesmo nome realizado em 2004
Além dos ensaios, a ediçao traz um belo caderno de fotos em papel-cartao destacável, para que as imagens possam ser vistas ao mesmo tempo em que se lê os ensaios.