Fernanda young nao só tece palavras nos textos que escreve
Mais do que isso, a autora trava, no fluir criativo de seus poemas, um verdadeiro embate apaixonado com as palavras, que, segundo ela, a salvam de "uma agústia insustentável"
Fruto de um processo singular na obra da escritora, a mao esquerda de vênus, lançamento da globo livros, presenteia os leitores com seus versos intimos, permeados por desenhos, anotaçoes, fotografias e bordados além do projeto gráfico de daniel trench
Com 11 obras publicadas em uma trajetória literária de 20 anos, young reúne novamente suas poesias em livro, o segundo do gênero após dores do amor romântico.a relaçao de young com a poesia nao é de hoje e tem um caráter especial em sua produçao
Foi sua obsessao pela palavra, dita ou impressa no papel, que a levou a driblar sua antiga dificuldade de ler e compreender a escrita
"a língua portuguesa nunca me deixou desistir
Sou uma romancista que escreve roteiros, que atua caso precise contar uma história, mas que começou escrevendo poemas, na verdade, devido à dislexia"
Também por essa razao que o leitor encontrará, nas páginas do livro, essa devoçao amorosa pela palavra e pela estrutura própria do poema."poesia é mesmo uma estrutura cruel, visto que, se nao conseguimos ler corretamente um poema, ele nao fará sentido algum
Há versos que, sozinhos, contam páginas e páginas de uma história; outros encerram, na medida cirúrgica, exatamente o que querem dizer
É como se um romance coubesse ali", afirma a autora, que reúne no livro poemas criados nos ultimos dez anos.contudo, a ideia de a mao esquerda de vênus nasce de um "encontro"
Há alguns anos, a escritora encontrou, em uma caixa cheia de livros de sua amiga monica figueiredo, um maço de cartas amarrado em uma fita de cetim
Em meio à biblioteca que criou para abrigar a doaçao de dezenas de livros da família figueiredo, ela e sua irma, renata young, descobrem cartas de amor instigantes e misteriosas de laurinha, mae de monica, que as autorizou a seguir na leitura
Young acredita que a arrebatadora identificaçao com a autora daquelas cartas, tardiamente descobertas e escritas em lindos papéis finos, foi o elemento desencadeante do livro.revelada nas cartas e diários escritos por laurinha desde a adolescência até antes de sua morte, aos 69 anos, a história de amor vivida pela amiga provocou em young uma profusao de sentimentos e sensaçoes que a artista eterniza em sua arte poética
"(...) pelo que entendi, eles formaram um casal andarilho, ora proibidos, ora assumidos, apaixonados, etílicos
Ela, mais velha que ele; ele, às voltas com uma mulher cheia de manias - taurinices -, lenços, chapéus, pulseiras, músicas, poesias, batons, filhas, anéis, uísques, caixinhas, cartoes postais
Acumuladora, contadora de histórias, escritora de diários", afirma young no prefácio do livro.com palavras cortantes, cruas, mas também com outras doces e românticas, young fala, portanto, em a mao esquerda de vênus, do sentimento de amor
O amor em sua maior potência
Seu poder de seduzir e de destruir a si e ao outro
Tao transbordante que ora se reverte também em homenagens a amigas e amigos, com poemas dedicados a betty lago, entre outras pessoas do círculo intimo da escritora.