Uma jornada no inverno abre a série kingmaker com uma narrativa repleta de fogo, neve e sangue
Em seu primeiro e aclamado romance histórico, toby clements recria de maneira meticulosa os tempos mais caóticos e violentos de todo o passado inglês: a segunda metade do século xv, período marcado pelo conflito civil que ficou conhecido como guerra das rosas
Cruzando mares, montanhas e campos de batalha, o leitor acompanha um monge e uma noviça em fuga por um universo de crueldade regido pela fome e as intempéries a europa medieval
O resultado é um romance histórico vívido e brilhante, perfeito para fãs de ken follett ou bernard cornwell
Em 1460, nas primeiras horas de uma manhã gelada, o cônego thomas recebe a missão de acabar com o sofrimento da raposa que, presa em uma armadilha do outro lado do rio, fez seu grito ecoar por todos os cômodos do monastério durante a madrugada
Porém, em meio ao bosque, não muito distante do corpo agonizante do animal, ele avista duas freiras sendo atacadas por homens a cavalo
Ainda que atabalhoadamente, vestindo batina e tamancos, thomas consegue salvá-las
Ao mesmo tempo, acaba selando seu destino e o da jovem irmã katherine: jurados de morte e acusados de comportamento lascivo, não veem alternativa senão fugir
Longe da clausura, eles só encontram hostilidade, medo e tragédia
A inglaterra, dilacerada após a guerra dos cem anos, foi dominada pela barbárie
As terras britânicas se tornaram cenário de sucessivas tramas e conflitos pela conquista do trono, disputado na ponta da espada entre as famílias reais de york e de lancaster
Nesse contexto, para além de descobrir as liberdades e respectivas privações mundanas, thomas e katherine são obrigados a literalmente lutar pela sobrevivência
Marcado por peripécias e surpresas, uma jornada no inverno, ao longo de suas mais de 500 páginas, mantém um ritmo implacável sem jamais abdicar da verossimilhança e do respeito aos fatos
Mais do que isso, toby clements exibe apuro estético ao reconstituir os detalhes daquela época combinações de palavras escritas se transformam em sons, texturas e aromas (embora nem sempre dos mais agradáveis) próprios do mundo quatrocentista
O autor é ainda capaz de escapar da perspectiva da nobreza para priorizar o ponto de vista das pessoas comuns, dando um sentido épico aos tormentos e provações de uma nada pacata vida cotidiana
Trata-se de uma ode à resiliência humana, que, mesmo brutal e impiedosa, não falha em seus objetivos de empolgar e fascinar.