A cada época, o historiador se esforça para conciliar as exigências da objetividade e a necessidade que tem de reinterpretar o passado à luz do presente
Mas em face do que é, em face do que vem, o que diz a história? em lugares para a história, arlette farge reflete sobre a responsabilidade do historiador diante do presente: pensar o sofrimento, a crueldade, a violência, a guerra sem reduzi-los a fatalidades é também querer explicar os dispositivos, os mecanismos de racionalidade que os fizeram nascer
As ciências do homem sempre tenderam a considerar o campo emocional como resultante apenas do fisiológico, dos sentimentos
Ora, o sofrimento humano nao é anedótico: o acontecimento singular é um momento de história
A opiniao das pessoas, a fala, o acontecimento que sobrevêm fazem parte dos lugares políticos da história
Do mesmo modo, a diferença dos papéis sexuais nao é uma fatalidade; ela está submetida às variaçoes da história
O livrofomenta uma discussao fundamental para o historiador: reinterpretar a história de acordo com o nosso presente
Para tanto, a obra de michel foucault, com quem arlette farge publicou, em 1982, la désordre des familles (a desordem das famílias, inédito em português), serve aqui de apoio para a análise de diversas questoes que estao em jogo na escritura da história
Sobre a autora: arlette farge é diretora de pesquisa no centre national de la recherche scientifique (cnrs - centro nacional de pesquisa científica, na frança)
Publicou, entre outros, le gôut de l'archive [o gosto do/pelo arquivo] (1989), dire et mal dire
L'opinion publique au xviiie siècle [dizer e mal dizer
A opiniao pública no século xviii] (1992) e le cours ordinaire des choses dans la cité du xviiie siècle [o curso ordinário das coisas na cidade do século xviii] (1994)
Traduçao: fernando scheibe