O título honorífico pela paternidade da aviaçao é uma polêmica que se arrasta há um século
Quem teria tido o privilégio de ser o dono do vôo pioneiro de um equipamento mais pesado que o ar? seria o brasileiro alberto santos-dumont ou os wright, dois irmaos norte-americanos? o cartunista spacca resolve colocar sua colher nessa polêmica e conta, nos quadrinhos de santô e os pais da aviaçao, a evoluçao da tecnologia aeroespacial a partir da biografia romanceada de santos-dumont e dos irmaos wright, desde seus primeiros pendores e esboços até a efetiva invençao (e sucesso) do aviao, em 23 de outubro de 1906
Durante o tortuoso percurso que levou ao vôo inaugural, há espaço para inúmeras peripécias, realizaçoes e infortúnios vividos paralelamente pelos três, e por diversos outros inventores envolvidos com o sonho de voar
Fruto de um trabalho em conjunto, os primórdios da aviaçao sao muito mais do que uma simples disputa entre naçoes, como o próprio spacca explica com mais detalhe, na entrevista abaixo
Uma cronologia, um mapa da paris de santô, um texto introdutório e uma bibliografia acompanham a história
De onde surgiu a idéia do livro? a princípio, quis contar a história de santos-dumont por uma otica nacionalista, para mostrar que os irmaos wright nao mereciam a glória de ter inventado o aviao
Com o tempo e as pesquisas, fui me convencendo de que o aviao foi uma espécie de invençao coletiva, e que os pioneiros se influenciaram mutuamente
Gostei de descrever essa "babel" de inventores, um de cada país, perseguindo o mesmo sonho
E acho que esse ponto de vista é novo para o público brasileiro, que parece precisar ser sempre o campeao do mundo
Como foi o processo de criaçao? durante muitos anos (desde 1979), desenhei o personagem e comprei livros relacionados ao tema e à época
Quando decidi fazer uma história em quadrinhos, trabalhei para dar forma dramática e divertida ao roteiro, mantendo fidelidade aos fatos
Só com o roteiro pronto é que procurei a editora
Foi difícil descobrir uma motivaçao para santos-dumont à altura da trajetória dos wright (que eram pobres; é mais fácil torcer por um herói pobre...)
Transformei a facilidade inicial de santos-dumont - que recebeu todas as condiçoes para se dedicar exclusivamente aos seus aparelhos - em uma espécie de missao pesada, um fardo que o pai poderoso transmitiu a ele pouco antes de morrer
Como os wright também tiveram um inspirador mártir, o otto lilienthal, estruturei o livro nessas duas histórias paralelas, que vao se cruzando e articulando, enquanto o mundo se encaminha para a primeira guerra mundial
Você se inspirou em algum trabalho específico? as influências sao inúmeras: assisti muito making-off de filme para aprender a estruturar uma história
Por exemplo, o tom da amizade de santô com o cartunista sem foi inspirada no filme jules et jim, de truffault; outras vezes eu pensava em spielberg, zemeckis e outros cineastas
O personagem jacinto de tormes de a cidade e as serras, de eça de queiroz, inspirou em parte o "meu" santô
Nos quadrinhos, peguei alguma coisa de carl barks (o inventor do tio patinhas) quanto ao uso de silhueta e nuvens com sombras negras, e também uderzo (asterix), morris (lucke luke) etc
E tenho ainda lembranças da fazenda de café que meu avô administrava, em que passava férias quando era criança.