Serena desde o sucesso do romance reparaçao, a expectativa gerada por um lançamento de ian mcewan tem sido imensa
Serena pode ser o livro que mais corresponde a essa expectativa, nao só por se tratar mais uma vez de uma personagem feminina que revê um momento histórico relevante (aqui, o começo da década de 70), mas, sobretudo, por permitir que o leitor reviva a discussao sobre os limites da literatura como reelaboraçao da realidade
Ao ser contratada pelo mi5, o serviço secreto britânico, a protagonista serena se vê como participante de uma mentira cujo objetivo é fomentar a criaçao de uma ficçao
Isso porque ela é incumbida de estabelecer contato com um escritor a quem nao pode contar que é uma espia, nem que o dinheiro que ele passará a receber virá do estado
Mas o contexto de toda essa armaçao é uma guerra muito real, num período bastante violento da história da inglaterra, especialmente por causa da atividade do ira
E, para serena, o caso envolve ainda sua vida pessoal, tanto no que se refere a seu antigo amante, que a introduziu no mi5, quanto no que se refere ao escritor que é vítima do ardil, por quem acaba se apaixonando
Ela é, portanto, agente e vítima, personagem e criadora, num romance em que todos esses papéis sao questionados com fervor
Ora, ao conhecermos a ficçao de tom healy, o escritor que nao sabe que está na folha de pagamento da inteligência britânica, já notamos essa curiosa relaçao entre o real e o fictício, mediada pelo criador
Mas será apenas quando concluirmos a leitura de serena que teremos a verdadeira dimensao do grau que atingiu essa fusao, tanto na história que estamos lendo quanto na nossa relaçao com o livro e seus personagens
A literatura experimental, questionadora, pode adotar várias máscaras
Em seu novo romance, ian mcewan a veste nos trajes mais discretos e, talvez por isso mesmo, mais eficientes.