Um dos nomes mais importantes da literatura brasileira, mestre do romance, é no conto que lygia fagundes telles encontra o seu mais autêntico meio de expressao e de renovaçao
Cada um de seus livros revela uma nova lygia, aberta à totalidade da vida, sempre interessada em novos mistérios, na busca permanente do mais intrigante de todos eles, o mistério humano
Começando a escrever ainda adolescente (o seu primeiro livro, repudiado pela autora, foi publicado quando ela tinha 15 anos), alcançou a maturidade intelectual com o romance ciranda de pedra (1954) e, no conto, com as histórias do desencontro (1958), em que predomina uma atmosfera de angústia e frustraçao, que se repete com frequência em sua obra
A partir daí, publicou vários volumes de contos, nos quais se pode fisgar pelo menos uma meia dúzia de obras-primas
Consagrada pela crítica nacional e internacional, comparada a monstros sagrados da literatura universal, uma katherine mansfield, uma virginia woolf, lygia é uma perfeccionista incansável, escrevendo e reescrevendo inúmeras vezes os seus trabalhos, em busca do completo despojamento, da nota exata que revele o intimo de suas criaturas, os seus dilaceramentos, as suas inquietaçoes, os seus impasses diante da vida, aquela nota trágica tao característica de sua arte
Escrever é cortar, dizia marques rebelo
Com o domínio da forma, disposta sempre a cortar, nunca a acrescer, lygia chegou a criar uma sintaxe própria, eliminando os complementos obvios da frase
Exemplo: "filó, a gatinha correndo e berrando com aquele rabo aceso, uma antena"
Descartou-se de muito mais, de tudo que seja acessório, atraída pelo essencial, o texto perfeito do qual nada se pode acrescentar ou suprimir, até alcançar aquela "clássica serenidade das formas de arte definitivas", que o crítico paulo rónai identificou em seus contos.