Quase memória lançado originalmente em 1995, quase memória marcou a volta de carlos heitor cony à ficçao de forma consagradora, depois de mais de vinte anos afastado da literatura
A obra ganhou, em 1996, os prêmios jabuti de melhor romance e de livro do ano, pela câmara brasileira do livro
Ponto alto na produçao literária brasileira das ultimas décadas, este romance explora o território entre a ficçao e a memória a partir das reminiscências do autor sobre o pai morto
Nele, cony mapeia minuciosamente a relaçao pai e filho: os sentimentos contraditórios, as alegrias e tristezas que nao se esquecem, o afeto incondicional e, acima de tudo, a cumplicidade
Tendo o rio de janeiro das décadas de 40 e 50 como cenário, a história começa quando o autor recebe um embrulho sem remetente na recepçao de um hotel cujo restaurante costuma freqüentar
A primeira reaçao é achar que se trata do original de um livro, como muitos que costumam parar em suas maos
Mas logo os detalhes o surpreendem: a letra no envelope é a do pai morto há dez anos, assim como o nó no barbante e a cor da tinta da caneta
Inconfundíveis
Aquele objeto inesperado desencadeia em carlos heitor cony lembranças do pai (ernesto, jornalista, como o filho viria a ser) e dos tempos de menino
Ao ativar a memória do autor, o misterioso envelope traz de volta sensaçoes e sentimentos experimentados com o pai, como o cheiro de manga, a capacidade de sonhar, de viver a vida com entusiasmo, a alegria pura da infância, que transforma o ato paterno de soltar baloes em algo de proporçoes heróicas
Com grande sensibilidade e contundência, cony revisita também os sentimentos contraditórios da relaçao entre pais e filhos: aqueles momentos em que se alternam vergonha e orgulho, medo e respeito
Cony declarou em entrevista que, em quase memória, pensou em "evocar do passado distante a figura do pai
Com a perspectiva do tempo, a deformaçao do tempo, o metabolismo das coisas, eu descobri que o pai era uma figura muito importante nao só na minha vida, mas por ele mesmo
E mais ainda, que eu hoje descubro o seguinte, que qualquer pessoa, você, eu, todos nós, se formos pensar na figura do pai, a gente vai dando descontos de sua personalidade, desconto dos episódios mal resolvidos, nós vemos que ele foi uma grande pessoa
O pai da gente é uma figura muito importante"