O brás talvez seja o bairro paulistano mais retratado em histórias, fotos, filmes, memórias, músicas e outras narrativas
Porta de entrada dos imigrantes estrangeiros, que tinham sua primeira parada na hospedaria dos imigrantes, prédio hoje transformado em um museu que registra a história dos movimentos migratórios, o brás é também o berço do mais popular esporte brasileiro, o futebol
Foi lá que nasceu charles miller, paulistano filho e neto de ingleses que, ao voltar de seus anos de estudo na inglaterra, trouxe ao brasil as primeiras bolas de 'capotao' com as quais ensinaria as poucas regras do 'esporte bretao' aos funcionários da primeira ferrovia paulista, a sao paulo railway, onde iria trabalhar.o escritor e jornalista lourenço diaféria, ao retratar o bairro do brás para a série trilhas da coleçao pauliceia, evita atribuir-se o papel de historiador ou de sociólogo
Prefere o registro em forma de testemunho, e apresenta ao leitor um pedaço vasto e extremamente pessoal de sao paulo, sem falsos sentimentalismos ou saudosismos
Percorre as ruas da regiao com a mesma sem cerimônia com que descreve as pernas de isaurinha garcia, os milagres do padre eustáquio, o assassinato do sapateiro martinez durante a greve de 1917, as pizzas do famoso restaurante casteloes e as lojas da rua do gasômetro.lourenço evita o pitoresco, o típico e o exótico
Com simplicidade e leveza, revê o lugar em que nasceu com os mesmos olhos do garoto que nao fazia ideia de que aquilo fosse um bairro
Nao por acaso, prefere chamar suas lembranças de desmemórias e destaca a sonoridade dos diferentes sotaques do bairro, para registrar as falas e as vidas dos muitos homens e mulheres, desde os portugueses, espanhóis e italianos dos primeiros anos do século xx, até os nordestinos de tempos mais recentes, que ajudaram a fazer do brás um lugar que é redescoberto e recriado pelo texto sensível de lourenço diaféria.brás - sotaques e desmemórias apresenta fotos antigas e recentes do bairro do brás e de sua gente.