Livro - o inominável o inominável, escrito em 1949, é o ultimo romance da famosa "trilogia do pós-guerra" beckettiana, formada ainda por molloy (1947) e malone morre (1948)
Ser do pós-guerra e ser beckettiana determinam as características particulares da trilogia, e em especial de o inominável
A obra de beckett nasce em pleno "pesadelo da história" que refere joyce (de quem beckett foi secretário particular)
Neste caso, um denso pesadelo de meio século, começando pela noite escura da i guerra, passando pela grande depressao e o nazifascismo, para atingir seu auge na noite ainda mais negra da ii guerra (da qual beckett participou junto à resistência francesa)
O que levaria adorno a decretar a própria impossibilidade de ainda se fazer poesia
Ao mesmo tempo, do lado da filosofia, os questionamentos modernos e o fim das certezas clássicas afinal levariam à declaraçao de wittgenstein: "o que nao sei dizer, devo calar"
É essa impossibilidade, ou seja, a falência da linguagem em dar conta de uma realidade, digamos, inominável, que está na origem dos silêncios significantes de beckett em seu teatro
Em seus romances, porém, beckett adotaria uma estratégia lingüística oposta
Falaria - ainda que sobre a impossibilidade de dizer
Como diz, aliás, o prefácio: "o inominável poe em cena uma voz anônima que, emitida de algum lugar na linguagem, começa com algumas generalizaçoes: admite que parece falar, dizendo eu sem se perguntar ou pensar quem ou quê é
Diz que nao fala de si mesma e que fará aparecer personagens, títeres, objetos, fatos e outros trastes necessários em narrativas, que logo eliminará
Nao reconhece nenhuma instância em que possa investir-se para inventar a identidade imaginária do sujeito de seu ato de fala
Avança por aporias, afirmaçoes e negaçoes simultâneas, invalidadas à medida que se formulam
As aporias dao continuidade verossímil à incerteza do seu monólogo, constituindo o presente do leitor com os vazios das significaçoes eliminadas
[a] voz está cansada
Nao disso ou daquilo, mas da condiçao humana, do seu lugar na linguagem, obrigada a continuar falando com palavras de outro, "o mestre", como diz, repetidas na língua morta das palavras dos vivos, os outros, 'os homens': "o que é possível saber?, o que é possível fazer?, o que é lícito esperar? cansada dessas e de outras questoes, fala para eliminá-las"
Se o vazio do mundo nao permite dizê-lo, o vazio de si nao permite calar-se
No caminho contrário do silêncio significativo de seu teatro, trata-se, nos romances de beckett, de um ruído (quase) significante
A verdadeira "açao", em todo caso, está aqui na própria linguagem - ainda que se trate de fazê-la comunicar a incomunicabilidade moderna
Traduçao: ana helena souza imagem meramente ilustrativa.